Por que são as pessoas boas as que morrem mais cedo?

Se é verdade que "só Deus tem os que mais ama", tenho a certeza que foi por isso que levou de nós o meu pai quando ainda era novo.

A minha mãe morreu com pouco mais de 40 anos. Aquele homem viu-se de repente sozinho com seis filhos pequenos para criar. Nós vivíamos no Porto e era noite de São João. E como gostávamos de ir ao São João! Mas naquele ano não pensei que iríamos. A minha mãe tinha acabado de morrer. Quando chegou do trabalho, o meu pai viu-me sentada na soleira da porta à espera dele.

"Por que estás aqui sentada, Maria Alice?" - perguntou-me.

"Já acabámos de comer e não tinha mais nada que fazer, por isso sentei-me aqui à tua espera."

"Mas não te vais vestir para irmos ao São João?"

O meu querido pai tinha acabado de perder a mulher. Sabe Deus que tristeza traria dentro de si. Mas não quis que vivenciássemos a mesma dor e levou-nos à festa. Éramos crianças, não sabíamos a dimensão da perda da nossa mãe, só queríamos divertir-nos. Ele fez-nos a vontade!

Todos os dias, o meu pai preparava as refeições para nós. Ao pequeno almoço, distribuía as canecas para o café com leite por cada um de nós e, no meio da mesa, colocava 40 pães.

Nunca me faltou nada, mas, claro, éramos muitos e só um salário a entrar em casa, por isso eu e os meus irmãos começámos a trabalhar cedo. Posso dizer que nos 10 anos em que trabalhei estando ele vivo não soube o que era andar de transportes públicos. Nem eu, nem os meus irmãos. Todos os dias antes de ir trabalhar, ele deixava cada um de nós no seu emprego.

Já vos disse que me faz muita falta o meu pai? Foi por ele ser tão bom que Deus o quis junto dele, tenho a certeza.

Somos sete irmãos muito unidos. O nosso pai não tinha bens materiais para nos dar. Por isso, deu-nos todo o amor que alguém pode querer. Até hoje esse amor permanece entre nós.

(História ouvida no balneário da hidroginástica, esse laboratório em que ouço os relatos mais inspiradores de mulheres mais velhas e bem mais sábias que eu)