Estou irritada!

Há dias em que me sinto completamente assoberbada. A palavra em inglês é "overwhelmed" e acho que traduz melhor o sentimento. Dias em que queria apagar o mundo e ficar em silêncio. Dias em que não quero ver internet e, nem mesmo notícias (eu, que sou viciada em notícias). Não tem de haver uma situação externa para me sentir assim. Acho que é o resultado cumulativo do tanto que vou lendo, vendo e ouvindo.

Houve alguém que um dia me disse: "a verdade é que o mundo nunca andou bem". Está certo! É isso mesmo... Se não é pelo cu, é pelas calças. Talvez sejamos nós que, à medida que envelhecemos, mudemos de perspetiva. Se calhar estou a ser demasiado negativa e, nos dias que correm, não gostamos de pessoas negativas, né? I don't give a fuck. Estou cansada do politicamente correto, da hipocrisia, de um mundo muito cruel para ovelhas tresmalhadas. É verdade que o mundo nunca andou bem, mas agora sinto-o doente.

A sério que 86% dos jovens estão viciados em redes sociais? A sério que há adolescentes a terem uma péssima imagem de si mesmos só porque não cumprem os padrões estéticos? Não admira que haja tantos haters. Como não nos virarmos contra a perfeição? Mesmo que ela não exista, que seja completamente ilusória.

E a pressão? Os dedos apontados como facas só porque se está atrás de um ecrã, no conforto do sofá, e se pode ser cruel à vontade, em perfeita anonimidade. E, é claro, que é tudo ainda mais difícil para as mulheres. Porque não são só os homens a julgar-nos, mas nós umas às outras também. E, não, eu não acredito que a sororidade seja impossível (praticamente só tenho amigas). Só acho que da mesma maneira que somos tão críticas com nós próprias, também mais facilmente nos julgamos umas às outras. És condenada por mostrar os filhos, por não mostrares os filhos... Se perdes a cabeça e lhes dás um berro, que péssima mãe és... Se partilhas uma foto em biquíni, és uma puta, só te falta uma tabuleta a dizer que estás disponível. Se partilhas muito, expões-te desnecessariamente. Se não partilhas, deves ser tremendamente infeliz, além de grande bicho do mato.

Nos dias em que me sinto overwhelmed, em que me apetece desligar o mundo, tudo me irrita. (se calhar estou a ovular ou com TPM, tirada muito fixe para se dizer às mulheres quando estão impossíveis). Irrita-me o governo, irritam-me as notícias sobre o governo, irritam-me os fait divers, as censuras aos livros de grandes autores porque as nossas crianças não podem dizer "gordo", mas podem publicar vídeos nas redes sociais a atirar gatos de pontes para uma autoestrada, irritam-me os posts no Instagram, irritam-me os haters, irritam-me as pessoas que são manifestamente do Chega e que já nem sentem vergonha de se assumir como racistas e fascistas ("porque ele diz muitas coisas que são verdade")... Oh pah, não há paciência!

E, pronto, já desabafei... Ainda teria muitas mais coisas que me irritam de que falar, mas também me está a irritar estar a escrever este texto...