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Como seríamos hoje?

  • marlenerodriguessi
  • 4 de jul. de 2023
  • 3 min de leitura

No dia dos teus anos, estava no café a trabalhar, quando passou a nossa música, aquela que dançámos à porta do cinema, e que me lembra que, enquanto permaneceres no meu coração, continuarás vivo. Pensei em ti, como penso sempre, voltaram-me as saudades que às vezes me fazem chorar.

Quando nos conhecemos, chamaram-me atenção os teus olhos, tão azuis quanto expressivos. Mas o que guardo e guardarei sempre na minha memória é a tua gargalhada. E como rias das parvoíces que eu dizia... Lançavas a cabeça para trás e davas ainda mais dramaticidade à tua gargalhada, já, de si, tão viva!

Nunca ouvi uma palavra feia tua, só coisas boas.

Terias feito 44 anos e fico a imaginar como seria agora a nossa vida. Telefonar-te-ia para te desejar os parabéns? Ou estarias próximo e encontrávamo-nos para pôr a conversa em dia? Perguntava-te pela família, pelos meus sobrinhos, pelo trabalho? Ouviria a tua gargalhada? Dançaríamos de novo?

Adoro-te meu amigo! Tenho tantas saudades tuas, que às vezes dói!

Acredito que te tenho sempre comigo e, por vezes, juro por Deus que o sinto!


Escrevi este conto a pensar na nossa amizade:


UMA AMIZADE QUE É UMA CANÇÃO



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O Pipo era um miúdo traquina e brincalhão. Um pouco mais nova, a Irene era curiosa e destemida, mas, com estranhos, era bastante tímida.

Um dia, o Pipo e a Irene encontraram na rua a Maria, que os apresentou. Os olhos dos dois reconheceram-se, quem sabe de vidas passadas, e nunca mais se largaram.

Os dois amigos faziam muitas coisas juntos, mas cantar era a sua favorita. Faziam-no para chamar a alegria ou espantar a tristeza. E, por vezes, cantavam aos berros…

A Irene fazia o Pipo rir até às lágrimas. E quando ele dava uma gargalhada, atirava a cabeça para trás, como para lhe dar lanço.

“Irene, um dia fazemos um dueto. Prometes?” – pedia o Pipo.

A certa altura, Irene reparou que o Pipo tinha dificuldades em aprender na escola.

“Deixa de ser preguiçoso, temos de estudar para os testes.” – ralhava ela.

“Não estou a ser preguiçoso, juro! Se calhar, sou burro, não consigo perceber a matéria.”

A Irene acabava por desistir e ir para casa estudar sozinha.

A época de testes correu muito bem para ela e mal para ele. Aos poucos, foram-se afastando. A Irene voltou a estar mais com as amigas. O Pipo deixou de estudar quase por completo e dedicou-se às brincadeiras do costume.

Um dia, regressavam os dois da escola e, do nada, o Pipo disse a Irene:

“Gosto muito de ti!” Abraçou-a bem apertado.

A Irene correspondeu com a meiguice que lhe era característica, mas não conseguiu dizer nada. Não estava habituada a falar de sentimentos, nem a que lhe dissessem coisas daquelas.

No dia seguinte, o Pipo não foi às aulas. No intervalo, a Maria veio a correr encontrar Irene:

“O Pipo está doente no hospital.”

De repente, foi como se a Terra parasse de girar, o céu desmoronasse e o chão fugisse dos pés da Irene. “Calma, amanhã já estará bom e poderei dizer-lhe que também gosto muito dele” – pensou para si própria.

A Maria ficou encarregue de ir a casa do Pipo perguntar se já estava melhor. A Irene ficou a uns metros de distância, sem coragem para se aproximar. Quando a amiga se voltou, com as lágrimas nos olhos, Irene sentiu os joelhos fracos e pensou que ia cair. Maria abraçou-a. Choraram juntas…

Num dia quente de março, tão quente que não era normal para a época, o Pipo partiu.

A Irene sentiu tudo ao mesmo tempo: amor e revolta, união e desilusão. Por que não lhe tinha dito ela que também gostava muito dele? Culpava-se e continuou a fazê-lo por muitos anos.

Tão diferentes eles eram. Tão iguais no seu coração. Uma mesma canção.

Mas a amizade não desapareceu. Tantos anos depois, a Irene continua a sentir a presença do Pipo.

Há amizades assim. São como as canções. Permanecem enquanto alguém gostar de as ouvir.

 
 
 

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